Livro 'Estudos do texto e do discurso: perspectivas contemporâneas' (2022)
Um olhar sobre os estudos do texto e do discurso: apresentação
Nathalia Akemi Sato Mitsunari
Universidade de São Paulo
https://orcid.org/0000-0003-1389-9337
Gabriel Isola-Lanzoni
Universidade de São Paulo
https://orcid.org/0000-0003-2066-1298
Resumo | Início do capítulo
O início da Linguística foi marcado pela dicotomia língua e fala, respectivamente, “sistema gramatical que existe virtualmente em cada cérebro” (SAUSSURE, 2012, p. 45) e combinações pelas quais o falante realiza o código da língua, “no propósito de exprimir seu pensamento pessoal” (SAUSSURE, 2012, p. 45). Se essa dubiedade serviu para delimitar o objeto científico de linguistas formalistas – a língua dessocializada, em toda a sua imanência de sentido –, também fez emergir teorias funcionalistas, como a Teoria da Comunicação de Roman Jakobson, que se centraram na função comunicativa da língua e em suas categorias e critérios semânticos no nível analítico.
Desde então, houve um distanciamento da concepção de falante – ou autor – e de ouvinte – ou leitor – como meros emissores ativos e receptores passivos, condições mínimas de uma mensagem determinada pelas exigências de inteligibilidade e clareza. Ainda assim, é inegável a importância do estabelecimento de uma única estrutura organizacional, que dá conta da comunicação e da razão humana, nos estudos da significação nos mais diversos campos da atividade humana. Buscou-se, a partir disso, investigar mais a fundo a relação entre o individual e o social, o linguístico e o extralinguístico, seja contrapondo-se à linguística estruturalista, seja alargando seu escopo. Foram desenvolvidas teorias do texto e do discurso nos Estados Unidos, na Inglaterra, na França, em Portugal, na Alemanha, na Rússia, na Itália, na Argentina, no Brasil, em diferentes regiões do mundo, a partir de diferentes tradições de pensamento, muitas vezes, menos se preocupando em delimitar uma ciência dura e autônoma da língua que se articulando a outras ciências humanas.
Referências
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