Em 2024, o EPED chega à sua décima quarta edição com o tema Discurso e desordem informacional. Busca-se, com esse tema, propiciar, nas mesas e nas conferências, uma reflexão ética e estética sobre a constante disputa no espaço público entre informação e desinformação, entre a ciência institucionalizada e o negacionismo, e entre a (auto)crítica, o ceticismo e os fundamentalismos. Encontramo-nos diante de novas problemáticas, como o sucesso de estratégias de marketing digital apoiadas em dark posts e no uso de robôs para repostagem de notícias em massa em campanhas políticas; a disseminação de discursos de ódio que, com os filtros e os algoritmos das redes sociais, criam os chamados “consensos artificiais”; e o enorme compartilhamento de conteúdos negacionistas na internet, que hoje são discutidos não só pelas ciências humanas, mas também por outras áreas do conhecimento. Se a informação caminha a passos largos, a desinformação parece ter pegado carona na velocidade da luz. Entre caminhos tortuosos, o questionamento que fica é: qual percurso trilhar e como não se perder na ascensão do obscurantismo? São sobre esses pontos que buscamos promover reflexões nesta edição do EPED.

Realizado nos dias 22 e 23 de agosto de 2024, o XIV EPED contou com a presença de pesquisadores/as vinculados/as à Universidade de São Paulo e a outras instituições que debateram suas pesquisas com foco em questões discursivas, textuais, semântico-pragmáticas e interacionais.

Ressaltamos que o tema norteador da edição se aplica apenas às conferências e às mesas. As propostas submetidas à organização do evento podem tratar de qualquer temática no âmbito dos estudos textuais, discursivos, semântico-pragmáticos e interacionais, e no âmbito do ensino de língua portuguesa e estrangeira.

Comissão Organizadora do XIV EPED

Programação geral do XIV EPED

Caderno de resumos

Circular

Circular do XIV EPED

Conferências

No XIV EPED, contamos com quatro conferências.

Letramentos acadêmico-científicos na era de redes sociais digitais, desinformação e fake news

Profa. Dra. Fabiana Komesu (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - São José do Rio Preto)

Resumo

O objetivo deste trabalho é apresentar resultados obtidos em projetos de pesquisa (Temático FAPESP, processo n. 2022/05908-0; Capes-Cofecub, processo n. 88887.712049/2022-00; Universal/CNPq, processo 409249/2023-8) que se voltam à investigação de práticas letradas acadêmico-científicos na formação de professores e pesquisadores globalizados em educação científica, num contexto de utilização direta ou indireta de redes sociais digitais, no enfrentamento de desinformação e fake news. A problematização do tema emerge numa conjuntura em que usos sociais de leitura e escrita, como os requeridos e promovidos por instituições como escola e universidade, são confrontados com outros usos, informais ou não formais, com o questionamento, por um lado, da legitimidade dessas instituições, por outro, de fortalecimento do negacionismo científico, segundo disseminação e propagação de fatos que se distanciam de evidências científicas. Tenciona-se apresentar e discutir um conjunto de produções textuais realizadas em parceria com universidades brasileiras e francesas, voltadas a temas sensíveis ao debate da desinformação e fake news, como catástrofe climática, questões de saúde e epidemia e uso de inteligências artificiais.

Biodata

É docente e pesquisadora do Departamento de Estudos Linguísticos e Literários da Universidade Estadual Paulista (UNESP), câmpus de São José do Rio Preto, desde 2006, e do Programa de Pós-graduação em Estudos Linguísticos da mesma Instituição, desde 2008. É doutora em Linguística pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP, 2005), tendo realizado estágio no exterior na Université de Paris XII, França em 2002-2003 e, depois do doutorado, em 2008. Fez pós-doutorado em Linguística Aplicada na Universidade de São Paulo (USP, 2012). Foi bolsista Jovem Pesquisador FAPESP (2005-2006) e recebeu Auxílio à Pesquisa Jovem Pesquisador FAPESP (2005-2009). Foi vice-presidente do Grupo de Estudos Linguísticos do Estado de São Paulo (GEL, 2007-2009). Foi membro pesquisador de projeto CAPES-COFECUB (2015-2018, Brasil-França). É coordenadora da rede de pesquisa internacional Literacies in Different Fields of Knowledge, com financiamento CAPES-PrInt-UNESP (2019-atual). É coordenadora da parte brasileira do projeto Letramentos e tecnologias na educação científica e no enfrentamento da desinformação, com financiamento CAPES-COFECUB (2023-atual, Brasil-França). É pesquisadora principal do projeto temático Aprendizes universitários em práticas contemporâneas de letramento acadêmico-científico para formação de professores e de pesquisadores globalizados, com financiamento FAPESP (2023-atual). Foi professora visitante no exterior sênior na Université de Lille, França (2023), com financiamento CAPES-PrInt-UNESP.É líder do Grupo de Pesquisa Práticas de leitura e escrita em contexto digital cadastrado no Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq (desde 2014) e membro dos grupos de pesquisa Estudos sobre a linguagem (UNESP/CNPq, desde 2006) e Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologia Educacional (UFPE/CNPq, desde 2007). É pesquisadora do Grupo de Trabalho (GT) Linguagem e Tecnologias da Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Letras e Linguística (ANPOLL, desde 2010). Suas publicações incluem artigos em periódicos, capítulos de livro, livros, traduções especializadas sobre os temas de letramentos acadêmicos, letramentos digitais, escrita, discurso, internet e informação/desinformação e fake news. Atualmente, é coordenadora da área de Ciências Humanas e Sociais II (Linguística) da FAPESP.

Lattes: http://lattes.cnpq.br/7718546011328302

Inteligência Artificial e o Discurso de Ódio: em tela o racismo algorítmico e as microagressões nas redes sociais

Prof. Dr. Júlio Araújo (Universidade Federal do Ceará)

Resumo

Nesta conferência, analiso o impacto do racismo algorítmico enfrentado pela deputada Renata Souza, do Estado do Rio de Janeiro, ao empregar inteligência artificial na representação de uma mulher negra em um contexto de favela. O meu estudo discute como as microagressões colaboram para a propagação do discurso racista no ambiente virtual, com ênfase no caso específico envolvendo a parlamentar. Baseando-me em pesquisas críticas acerca de algoritmos (O’Neil, 2020; Prado, 2022) e estudos sobre racismo algorítmico (Noble, 2021; Silva, 2022), são analisadas as microagressões presentes nos comentários postados em sua conta no Instagram e em outras plataformas de mídia social. Os resultados revelam a estreita ligação entre as microagressões online na disseminação do racismo no ambiente digital e o discurso de ódio dirigido a indivíduos de ascendência negra.

Biodata

Possui graduação em Letras Vernáculas pela Universidade Federal do Acre (2000), mestrado em Linguística pela Universidade Federal do Ceará (2003) e doutorado em Linguística pela Universidade Federal do Ceará (2006). Fez pós-doutorado em Estudos Linguísticos pela Universidade Federal de Minas Gerais (2012). Atualmente é Professor Titular no Departamento de Letras Vernáculas e no Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade Federal do Ceará. Coordena o grupo de pesquisa em Discursos e Digitalidades (DIGITAL) e o Laboratório de Letramentos e Escrita Acadêmica (LEA). Atua na área de Linguística Aplicada em interface com Pragmática e as Teorias Críticas do Discurso. À luz dessa interface estuda as relações entre linguagem e tecnologia digital, com especial atenção aos seguintes temas: Fake News, desinformação, discurso de ódio, gêneros textuais digitais, letramentos digitais críticos, novos letramentos, escrita acadêmica, letramentos acadêmicos, ensino remoto e EaD. Foi vice-presidente da Associação de Linguística Aplicada do Brasil (ALAB) no biênio 2009-2011 e vice-presidente da Associação Brasileira de Estudos sobre Hipertexto e Tecnologia Educacional (ABEHTE) no biênio 2009-2011. Foi coordenador do GT de Linguagem e Tecnologias da ANPOLL no biênio 2012-2014 e foi membro dos conselhos consultivos da ALAB e da ABEHTE.

Lattes: http://lattes.cnpq.br/3016042855685546

Cancelamento nas plataformas de redes sociais: em busca de definições

Profa. Dra. Issaaf Karhawi (Universidade Paulista / Universidade de São Paulo)

Resumo

Por anos, a associação mais comum à palavra "cancelamento" era o ato de cancelar assinaturas ou serviços. Hoje, cancelar é sinônimo de silenciamento e/ou boicote de figuras públicas, ou mesmo de anônimos. Em 2019, por exemplo, a expressão "cancel culture" (cultura do cancelamento) foi eleita pelo dicionário Macquarie como a palavra do ano. Já em 2020, diversos eventos midiáticos tiveram uma dose de cancelamento no Brasil, desde reality shows até publicações de influenciadores digitais. A palestra "Cancelamento nas plataformas de redes sociais: em busca de definições" tem como objetivo mapear as perspectivas teóricas de abordagem do fenômeno dentro das pesquisas em comunicação.

Biodata

É professora titular do Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Paulista (UNIP-SP). Doutora e mestre em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP). Desenvolveu pesquisa de pós-doutorado, com bolsa PDJ-CNPq, na Unisinos. É autora do livro "De blogueira a influenciadora: etapas de profissionalização da blogosfera de moda brasileira" (Ed. Sulina, 2020). Atualmente, é vice-coordenadora do GP Tecnologias e Culturas Digitais da Intercom (Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação) e Key Regional Leader (South America) da TikTok Cultures Research Network. Também é docente convidada na pós-graduação lato sensu Mídia, Informação e Cultura do CELACC (Centro de Estudos Latino-Americanos sobre Cultura e Comunicação) da ECA-USP. Desde 2014, é pesquisadora em comunicação digital no Grupo de Pesquisa em Comunicação e Mídias Digitais, o COM+, da ECA-USP. Tem interesse nas áreas de Comunicação Digital, com ênfase nas práticas profissionais em ambiências digitais, nos estudos de influenciadores digitais (creators, produtores de conteúdo, blogueiros, youtubers e tiktokers), estudos de plataformas, análise do discurso e metodologias de pesquisa. É membro da Association of Internet Researchers (AoIR).

Lattes: http://lattes.cnpq.br/7544200768595888

Verdade factual e democracia: uma interdependência positiva

Prof. Dr. Eugênio Bucci (Universidade de São Paulo)

Resumo

Na palestra, procurarei refletir sobre como o conceito de "verdade factual", que tomo emprestado a Hannah Arendt, ajuda a definir o funcionamento da democracia tanto no debate público, aberto, como na institucionalidade do Estado de Direito. De outra parte, a vigência da democracia aprimora e dá mais alcance para os métodos de que dispomos para aferir a verdade dos fatos.

Biodata

Professor Titular da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP). Superintendente de Comunicação Social da USP, é membro do Conselho Curador da Fundação Padre Anchieta, do Conselho Deliberativo do Instituto Vladimir Herzog, do Conselho Administrativo do Colégio Santa Cruz de São Paulo e do Conselho Editorial da revista Interesse Nacional (ISSN 1982-8497). Integra os Conselhos Consultivos da Aberje (Associação Brasileira de Comunicação Empresarial), da Pública Agência de Jornalismo Investigativo e do Instituto Palavra Aberta. Escreve quinzenalmente na seção Espaço Aberto do jornal "O Estado de S. Paulo". Foi Coordenador Acadêmico da Cátedra Oscar Sala (IEA-USP) entre 2020 e 2023. Em 2021, encerrou seus mandatos como membro do Conselho Científico-Cultural do Instituto de Estudos Avançados (IdEA) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e do Conselho Consultivo da Fundação OSESP (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo). Foi professor da ESPM entre 2010 e 2014, onde dirigiu o curso de Pós-Graduação em Jornalismo com Ênfase em Direção Editorial, de 2011 a 2013. Foi presidente da Radiobras de 2003 a 2007. Na Editora Abril, foi diretor de redação das revistas Superinteressante e Quatro Rodas e Secretário Editorial. Ganhou o prêmio Luiz Beltrão de Ciências de Comunicação, na categoria Liderança Emergente (2011), o Prêmio Excelência Jornalística 2011, da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), o Prêmio Esso de Melhor Contribuição à Imprensa (2013) pela Revista de Jornalismo ESPM, o Prêmio Tese Destaque USP (2017) como orientador da melhor tese de doutorado em Ciências Sociais Aplicadas (O príncipe digital: estruturas de poder, liderança e hegemonia nas Redes Sociais, de Maíra Carneiro Bittencourt Maia). Desenvolve pesquisas nas seguintes áreas: ética e imprensa, comunicação pública, superindústria do imaginário, informação e cultura democrática. Escreveu, entre outros livros, "O Estado de Narciso" (Companhia das Letras, 2015) e "A forma bruta dos protestos" (Companhia das Letras, 2016), "Existe democracia sem verdade factual?" (Estação das Letras e Cores, 2019), "A superindústria do imaginário" (Autêntica, 2021) e "Incerteza, um ensaio" (Autêntica, 2023).

Lattes: http://lattes.cnpq.br/3091927508362382

Publicação

Historicamente, o EPED organiza um livro composto pelos artigos resultantes dos trabalhos apresentados no evento por docentes, pós-graduandos e graduandos. Todos os textos passam por avaliação cega por pares. A Comissão Científica é sempre composta por doutores de distintas universidades brasileiras e estrangeiras.

Guia para participantes

Visando auxiliar o deslocamento de participantes para o XIV EPED, anunciamos o lançamento do Guia para participantes.

O guia fornece algumas informações sobre como chegar ao prédio de Letras - local em que o XIV EPED ocorrerá -, mapa do prédio, assim como locais para refeições.